Nas zonas rurais do centro-norte de Portugal (nomeadamente nos distritos da Guarda e de Viseu) mantém-se a tradição de, durante a Quaresma, celebrar-se a Ementa das Almas (O verbo ementar significa relembrar) ou também designado cantar às almas santas: uma estrutura de cânticos religiosos lentos, quase fúnebres, cujo significado é recordar as almas dos antepassados falecidos, pedindo o seu descanso eterno.
A tradição do Cantar às Almas foi levada para a aldeia da Relva por Serafim Esteves, depois de ter tido conhecimento da mesma em Pindelo dos Milagres (São Pedro do Sul) quando lá servia, tendo ajudado a recriar e a perpetuar esta tradição que ainda hoje é interpretada por habitantes locais.
Cântico das Almas
Recriado por Major Serafim
Acordai almas benditas,
Desse sono em que estais,
Que vos bate Deus à porta,
Vós dormis e não rezais.
À porta das almas santas,
Bate Deus a toda a hora,
Almas Santas lhe respondem,
Que quereis meu Deus agora.
Quero que vos prepareis,
Para o reino da glória,
Nós já estamos preparados,
Ó meu Deus vamos agora.
Vamos cantar o bendito,
Às almas no lamento,
Na capela, no sacrário,
Do Divino Sacramento.
Pai nosso que estais no céu
Santificado seja o vosso nome,
Venha a nós o vosso reino,
Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu
O pão nosso de cada dia nos dai hoje,
Perdoai a nossas ofensas,
Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido,
E não nos deixais cair em tentação,
Mas livrai-nos do mal
Ave Maria cheia de graça,
Bendita sois vós entre as mulheres,
E bendito é o fruto Jesus.
Santa Maria mãe de Deus rogai por nós pecadores,
Agora e na hora da nossa morte.
Amem.
Ó cristão olha que morres
Lembra-te que hás de morrer,
Hás de dar contas a Deus,
Do teu bom e mau viver.
Muitas almas já clamam,
E dão gritos no inferno,
Pelas nuvens confissões,
Que desde mundo fizeram.
Se rezardes pelas almas,
Rezai também o pai nosso,
Vamos dar contas a Deus,
Que este mundo não é nosso.
Se rezardes um Pai Nosso,
E também uma Ave Maria,
Pelas almas do purgatório,
Que daqui foram um dia.
Consolai-vos almas santas,
Em breve heis de descansar,
Nós vamos rogar por vós,
Ouvir missa e comungar.
Quem és tu
Lurdes Maravilha
Não te vejo luz,
Qual é a cor do raio que te traz,
Penteias o vento dos meus passos,
Em cordas estreitas nas rotas de paz,
Oiço aqui tua voz,
Que estala num uivo, no cimo desse monte.
Abrigada nas fendas das giestas,
Escorrido na água fresquinha da fonte,
Serás o vento, que corre veloz no outeiro,
Sobre a força viva, deste tempo.
Escurado no leito do meu celeiro.
Serás a vida, que floresce nesta partida,
No começo do tudo e do nada,
Nas metas longas, desta corrida.
Que sejas a luz,
A voz, o vento e a vida,
Na hora certa, da minha partida,
Que sejas a luz,
A voz, o vento e a vida,
Na hora certa, da minha partida.
Interpretação de: Lurdes Maravilha, Maria José Pinto, Lúcia Pereira, Marta Pereira, Carlos Pereira, Alice Gonçalves, José Gonçalves, Vera Silva, Helena Cunha, Guida Cunha
Captação de imagem e som por Luís Costa a 04 de maio de 2019. Editado por Liliana Silva
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