Maria Célia Teixeira Matias, filha única, nasceu a 6 Março de 1933 na aldeia de Moura Morta concelho de Castro Daire. Frequentou a escola primária até à 4ª classe, incentivada pela mãe que gostava muito de ouvir romances e queria que a sua filha aprendesse a ler, para depois lhe ler o livro de Carlos Magno, um livro que na altura estava muito em voga. Fala-nos do pai, homem habilidoso, carpinteiro de profissão, “que aprendeu em apenas 27 dias” , diz com orgulho.

Terminada a escola primária foi guardar ovelhas e cabras, e ao mesmo tempo fazia meias de lã, arte que aprendeu com a sua mãe, tendo feito mais de mil pares dessas meias, ao que juntou, mais tarde às rendas e à malha . Casou-se tarde, com 36 anos e teve um único filho. Tem um amor enorme à sua aldeia, o que a levou a escrever versos e a publicá-los no jornal local, como aquele que nos recitou, relativo à origem de Moura Morta:

Quis Deus que nascesse um dia
Aqui no sopé da serra
Uma pequenina aldeia
Que por sorte é a minha terra.

Dantes era um descampado
Mas tinha muitos pastos e muitas flores
Foi isso que agradou a um grupo de pastores.
Por cá foram ficando

Construíram o que foram capazes
E ao pequeno povoado
Deram o nome de Mazes.

Mas o povo foi crescendo
Até que chegou um dia
Que o pequeno povoado
Passou a ser freguesia.

Um dia o nome mudou
Porque algo aconteceu
Dizem que uma moura velhinha
Nesta terra ela morreu.

Devia ser muita boa ou até uma santinha
Pois onde caiu nasceu
A fonte da Fontainha.

Ainda hoje existe
Já passou séculos a jorrar
E ainda não se cansou
de os nossos campos regar.

Porque tinha outra crença
Não a deixaram passar
Mas assim se fez a história
Que eu tenho para contar.

E quando eu morrer
Outros a contarão
Para nunca se esquecer a lenda ou tradição.

Obrigada moura querida
Pelo nome que nos destes
Que Deus te dê guarida
Que aqui não tiveste.

Entrevista a Maria Célia Matias, conduzida por Liliana Silva. Captação de imagem e som por Liliana Silva a 17 de janeiro de 2020. Editado por Liliana Silva.

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