Arnaldo Dias, nascido a 1 de Junho de 1941, em Cotelo, freguesia de Gosende do concelho de Castro Daire, assume de forma peremptória que teve uma infância triste, tendo “passado mal”. Aos oito anos, conta-nos, “já andava com as ovelhas no monte.”

A história de Arnaldo, com partida para a capital aos 24 anos, é igual a tantas outras, com promessas de emprego e mais dinheiro. Casou-se cedo, aos 19 anos e já casado, rumou para Lisboa, com a mulher e três dos cinco filhos. Foi viver como tantos outros para Marvila, para o Bairro Chinês, para um aglomerado de barracas, que recorda, com tristeza e onde viveu durante 10 anos. A sua barraca era igual a tantas outras, feita de madeira, com chapas de zinco e papelão.

Em Lisboa, não sabia fazer mais nada, senão trabalhar, conta-nos, mas confessa, que nunca gostou de lá estar, mas tinha que ser, remata, “para não faltar comida aos filhos”. Começou nas obras, e mais tarde numa das muitas fábricas da zona industrial de Lisboa, numa sucursal da Fábrica Nacional de Sabões, onde esteve 29 anos.

A vida foi dura, de muito trabalho, começou por “alombar” sacas de 70kg, 80kg e mais tarde de 100kg. Recorda, com alguma alegria o dia em que mudou, com a sua família para uma das casas pré-fabricadas, abandonando o pobre bairro de lata. Na nova casa tudo era diferente, tudo mudou, como nos diz, mobilou-a e tinha finalmente uma casa de banho. Viveu como podia viver, com sacrifício para criar os cinco filhos mas diz-nos, com um brilho nos olhos, que a alegria se dava quando nas férias vinha à terra. Conta, até, que numa dessas viagens, já em carro próprio, demorou mais de nove horas, mas compensado, pelo regresso, por uns tempos, à terra que o viu nascer.

Entrevista conduzida por Liliana Silva. Captação de imagem e som por Liliana Silva a 12 de Fevereiro de 2020. Editado por Liliana Silva.

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